Como foi descobrir o Dom da Docência?

O ano era 1993. Eu era bancário do antigo Banco Brasileiro Comercial S/A em Goiânia. Trabalhava na área de Organização e Métodos e estávamos passando pelo processo de informatização do Banco com Micro computadores. Naquela época, me lembro que tudo o que fazíamos no Banco era feito em máquinas de datilografia eletrônicas (IBM e Remington), tínhamos também uma máquina de editor de textos com um monitor que devia ter umas 10 polegadas. De repente, chegou dois computadores para o nosso departamento que pareciam duas máquinas espaciais e ninguém tinham coragem de ligá-los. Eu como era muito curioso, um dia sentei em frente a um daqueles “monstros” e me atrevi a ligá-lo. Quanto ele ligou, apareceu um monte de coisas “códigos” do sistema operacional DOS – Disk Operation System e quanto finalizou o processamento, apareceu uma letrinha escrito apenas C:\>. Sinceramente, eu parecia uma criança em frente a algo totalmente desconhecido. Foi quando eu comecei a digitar um monte de coisas e pressionava a tecla Enter para ver o que acontecia e o DOS só me respondia com Command not Found. Bem, a princípio eu fiquei muito decepcionado com o que o computador me respondia e pensei, preciso procurar alguém que possa me enviar a como mexer com esta coisa. Foi quando eu procurei os papas da informática que me ensinaram alguns comandos do DOS e me deram um livro que mais parecia uma Bíblia. 

Comecei o meu mundo de erro e acertos, praticamente parei de trabalhar para aprender a mexer naquela coisa. Fiquei tão bom, que aos poucos meus colegas começaram a me procurar para que eu ensinasse eles a mexer e a dominar aquela coisa chamada computador. 

Pois bem, quando sai do Banco, me mudei de Goiânia para uma cidade do interior de MG chamada São Sebastião do Paraíso-MG. Fui para lá para passar o final de ano com uma comadre e suas filhas e quando o ano virou para 1995, procurei uma escolinha de informática para imprimir um Currículo Vitae que havia levado em um disquete de 5″ ¼, enquanto estava na sala de aula mandando imprimir, o meu CV estava sendo impresso numa impressora matricial Epson que ficava na recepção da escola. Ao chegar na recepção para pegar meu CV, os donos da escola estavam lá lendo o meu CV, que na época tinha poucas experiências. Foi quando uma das proprietárias da escola me fez uma pergunta se eu poderia deixar uma cópia do meu CV como modelo para as aulas de informática. Eu deixei a cópia e o telefone de onde estava hospedado. Um dia depois, me ligaram e me perguntaram se eu estaria disposto a dar uma aula VIP para apenas um aluno. Eu respondi claro, afinal estava passeando e ganhar um dinheirinho nas férias não era nada mal. Pois bem, quando cheguei na escola para dar a aula, entrei na sala de aula pela primeira vez e me deparei com um senhor de uns 70 anos mais ou menos, comecei a dar a aula para ele e o senhor não estava muito interessado na aula de DOS e Windows 3.1, foi quando eu parei a aula e perguntei – Escuta, o senhor não está entendendo? Tem algo que eu possa fazer para que o senhor entenda. Este senhor levantou a cabeça e me respondeu – até que enfim alguém me perguntou o que eu preciso aprender. Ele continuou – filho, eu sou advogado e estou precisando aprender a colocar os meus processos nesta máquina, pois o juiz da cidade não aceita mais os meus processos datilografados. Foi quanto eu respondi, então o que eu estou ensinando para o senhor não irá servir, o que o senhor precisa aprender é um editor de textos chamado Word. Dei a aula para ele naturalmente e ao final ele foi até a secretaria para pagar a mensalidade do curso e falou para uma das proprietárias – olha, em toda a minha vida educacional, nunca conheci um professor com tamanha empatia e didática com os alunos. Eu agradeci e me senti valorizado pela primeira vez na vida como professor. 

Enfim, antes de ir embora este senhor falou para as proprietárias, invistam neste professor, pois ele é muito bom. Eu imaginei tudo o que passei para aprender a dominar aquela máquina, passou um filme pela minha cabeça na hora. Foi quanto uma das proprietárias me perguntou se eu estaria interessado em dar aulas para uma turma. Eu respondi que sim, afinal, um dinheirinho a mais no bolso nas férias é tudo de bom. De repente, fui recebendo outros convites, outra turma, mais uma, mais uma, mais uma e mais outras, quanto eu vi, estava com 14 turmas, dava aula de segunda a sábado, de manhã, a tarde e a noite, uma loucura. Daí, percebi que cada turma demoravam em média 4 meses para a conclusão e que não havia outro professor para me substituir e afinal, eu ganhava três vezes mais do que eu ganhava como bancário. 

Foi assim que descobri o meu DOM para a docência. Após isso, fiz inúmeras capacitações, treinamentos, cursos e tudo o que eu precisava para me qualificar. Afinal, ensinar não é para qualquer um. Precisa ter paixão pelo que fazemos, transferir o conhecimento que aprendemos para os outros.

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